Jingle "Sabonete Gessy"

Apesar de na maioria dos jingles a mulher ser tratada com a "senhora do lar", alguns produtos eram oferecidos de forma a colocá-la como um ser delicado, que deveria sempre estar bonita e perfumada para seu marido. Percebemos tal característica no anuncio musicados do “Sabonete Gessy”:

“_ Novo perfume do sabonete Gessy:
Surpreendente, envolvente, persistente
Novo perfume Gessy
Sabonete Gessy
_ Mais espuma
_ Mais beleza
_ E ainda mais perfume
_ Marcante
_ Provocante
_ Ao sair do banho você se sentirá outra como sabonete Gessy
Gessy, Gessy...” 
 
            Assim, através uma balada romântica, vozes feminina e masculina se alternam. A mulher, mais uma vez, como se tivesse usado o sabonete e aprovado a fragrância. Já o home, toma o papel de amante das mulheres, como se ele não resistisse mulheres perfumadas. Logo, os maridos das ouvintes também não resistiriam. Para as solteiras, o sabonete teria a capacidade de atrair o homem que elas desejassem.

Jingle "Sabão Minerva"

No jingle do ‘Sabão Minerva’, também em ritmo de marchinha, a voz feminina canta a qualidade do sabão Minerva em pedaços, sendo ele, o melhor. Tal anúncio se assemelha a conversa entre vizinhas que trocam receitas e indicam bons produtos umas para as outras:

“Eu exijo meu sabão
Não tendo Minerva eu passo
Só levo se tiver Sabão Minerva em pedaço.
Minerva é um descanso
Eu sei muito bem o que faço
Eu faço econômica com Minerva em pedaço.”

Jingle “Fósforo Beija-flor”

“A semana inteira compre fósforos em pacotinho.
Você faz economia!
Sai mais barato, mais baratinho.
Compre sempre pacotinhos pra semana inteira.”

Em ritmo de marchinhas carnavalescas o autor busca criar uma relação de amizade com a ouvinte, de forma que ele se torne um conselheiro fiel e interessado no bem-estar da dona de cada. Um coro de homens é interpelado por uma voz feminina cantando “Você faz economia”. Tal voz funciona como uma dona de casa que usou e aprovou o produto e, agora, o indica para mulheres que vivem essa realidade de rainha do lar.

Jingle "Caracú"

“Uma cerveja Caracú é o que ele quer de primeira
Por isso tenho sempre Caracú na geladeira.
Caracú é saborosa a todo instante, a toda hora.
Caracú é a cerveja que alimenta e revigora.”

O autor procura, através de uma letra de fácil assimilação e rimas paralelas, incitar a dona de casa a comprar o produto pelo fato do mesmo satisfazer e agradar ao marido que, possivelmente o chefe da família, chega cansado do trabalho diário e ansiando por uma boa cerveja. A mulher é posicionada como a “boa esposa”, que cuida da casa e dos filhos no período diurno, se dedicando completamente a tarefas domestica, mas que, no período da noite se dedica a cuidar e agradar seu marido e cumprir seu papel de mulher.

JINGLES E MULHERES


Segundo Tinhorão, a idéia de usar mensagens musicadas para atrair o consumidor não era nova, pois desde o século XIX os vendedores de rua faziam uso desse mesmo artifício ao gritarem a praça pública ofertando seus produtos. Eram os chamados pregões.
 “A acreditar no depoimento do compositor Antônio Nássara – até hoje não contestado por qualquer contemporâneo –, os anúncios cantados surgiram no rádio brasileiro em 1932, como umas das muitas inovações introduzidas pelo famoso Programa Casé, da Rádio Sociedade Philips do Brasil, PRC-6, do Rio de Janeiro.” (TINHORÃO: 1981)
           
A palavra jingle é de origem inglesa e tem como significado tinir, retinir, soar. Na linguagem publicitária, no entanto, ele é definido como uma composição musical e verbal de longa (15 a 30 segundos) ou curta duração (uma frase musical ligada a um nome de marca ou de um slogan) feita especificamente para a apresentação ou venda de determinada produto. Podemos definir jingle como sendo “[...] uma pequena peça musical cuja função é a de facilitar e estimular a retenção da mensagem pelo ouvinte. O jingle é geralmente curto e sua melodia é ao mesmo tempo simples e de fácil compreensão” (SIEGEL, 1992). De acordo com o manual da agência Mccan-Erickson (1960), jingle é a combinação entre música e letra assemelhando a mensagem a uma pequena canção. A INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - define jingle como sendo a “mensagem publicitária em forma de música, geralmente simples e cativante, fácil de cantarolar e recordar, criada e composta para a propaganda de uma determinada marca, produto, serviço”.
 
De acordo com a historiadora Rosalind Miles (1990) desde o terceiro milênio antes de Cristo, a história foi sendo documentada do ponto-de-vista masculino, sendo as ações dos homens o centro de todo esse registro. As mulheres seriam citadas apenas em função de sua ação social, enquanto “fêmeas da espécie”, restritas à casa, ao universo familiar. Já com as sociedades de caça, segundo Muraro e Boff (2002), as relações de força se iniciaram e o masculino passaria a ser predominante, vindo a se tornar hegemônico no período histórico, quando assume para si o domínio público e deixa o privado para a mulher.
No universo dos jingles, inclusive, a mulher era tratada como a rainha do lar. Tal fato se evidencia nos produtos que a ela eram destinados e a forma como lhe eram oferecidos nos anúncio cantados.